- 05/06/2021
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Já estamos há pouco mais de um ano pandêmico em função da COVID-19 que trouxe grandes alterações nas relações do trabalho formal sendo a prática do home office o alvo de muitos debates e inclusive de pesquisas acadêmicas1 em relação à satisfação dos colaboradores e nível de produtividade.
Após observar e refletir exaustivamente sobre os benefícios e malefícios do home office, observamos a tendência de seu estabelecimento, não somente como uma medida sanitária emergencial de distanciamento social, mas como algo que as organizações estão debatendo e se planejando para dar continuidade. E é aí que nos perguntamos: o home office é bom para quem e quando?
É preciso lembrar que o home office é uma das categorias de Teletrabalho que, segundo Rocha e Amador (2018), é a “modalidade em que o trabalho é realizado remotamente, por meio de tecnologias de informação e comunicação (TIC) e pode ser dividido nas seguintes categorias: trabalho em domicílio (home office), trabalho em escritórios-satélite, trabalho em telecentros, trabalho móvel, trabalho em empresas remotas ou off-shore, trabalho informal ou teletrabalho misto (arranjo com o empregador para que se trabalhe algumas horas fora da empresa)”.
Havendo a clara vinculação da prática de home office ao domicílio do colaborador, segue-se abaixo as nossas considerações específicas para esta modalidade de Teletrabalho na perspectiva da continuidade de sua prática do ponto de vista da saúde do trabalhador:
1 ) Home Office: para quem?
O trabalho em home office é positivo para aqueles trabalhadores que:
- Atribuem um significado ao ambiente doméstico passível de incorporar atividades profissionais no mesmo espaço físico com uma certa privacidade;
- Atribuem um significado ao ambiente organizacional passível de ser estendido para fora da sede da empresa;
- Possuem perfil que lhes permita trabalhar sem supervisão com foco na entrega de resultados;
- Possuem perfil de certa independência da relação com seus pares para ser produtivo naquilo que lhe compete;
- Têm à disposição a infraestrutura minimamente adequada quanto às TICs, ao mobiliário e a outros fatores do seu entorno físico como iluminação, temperatura e som;
- Têm ambiente social favorável ao trabalho sem elementos ou demandas que drenam a sua atenção e energia com interrupções e necessidade de atendimento às mesmas.
Os trabalhadores que estão nas condições acima citadas muito provavelmente são aqueles que estão apoiando a continuidade da prática desta modalidade de trabalho por estarem satisfeitos com seu desempenho e se beneficiando da possibilidade de não gastarem tempo de deslocamento à sede da organização, de terem um espaço mais tranquilo para a realização de suas tarefas e até mesmo de ter flexibilidade para atender demandas pessoais que são mais facilmente negociáveis com suas chefias pelo foco agora no resultado e não necessariamente no cumprimento de uma jornada em certo horário rígido.
2) Home Office: quando?
No entanto, na análise acima falta um elemento para dizermos, do ponto de vista ocupacional, que é o cenário ideal para a saúde funcional do ser humano: a prática das atividades de todos os papéis ocupacionais sendo desempenhada num único ambiente – aquele mesmo que é utilizado agora também para uma das áreas principais da vida: o trabalho.
Ou seja, se o ambiente doméstico tem sido considerado adequado para a prática do trabalho por alguns, devemos nos perguntar: ele também é adequado para a prática de atividades de autocuidado como atividade física e outros cuidados com a saúde? Ele é adequado para ser o principal centro de compras de todos os itens necessários à sobrevivência? Ele é adequado para a realização das atividades de lazer e de socialização com a família e amigos? Ele é o mais adequado para as atividades religiosas? E para as atividades de voluntariado e de participação em organizações de cunho social? E para estudar e desenvolver seu potencial?
Tudo isso é passível de ser feito a partir do ambiente doméstico e utilizando a tecnologia? Sim e tem sido feito em função da situação emergencial de pandemia. Mas é adequado?
Kielhofner (2008), autor do Modelo da Ocupação Humana, afirma: “o ambiente demanda comportamentos particulares e desencoraja ou desautoriza outros” (p. 87). “A relação entre os seres humanos e o ambiente é íntima e recíproca” (p. 97).
Kielhofner (2008) e a Associação Americana de Terapia Ocupacional (2020) arrolam os elementos do ambiente que interferem positiva ou negativamente no desempenho ocupacional: objetos, espaço físico, produtos e tecnologia, condições naturais do meio ambiente, formas e tarefas ocupacionais, grupos sociais (família, vizinhos, colegas de trabalho), atitudes e expectativas relacionadas a um dado ambiente (costumes, ideologias, valores, normas, crenças, cultura), sistemas e políticas.
Com base nestes princípios acima citados podemos agora responder a nossa segunda pergunta: quando o home office seria uma prática recomendável e saudável para aqueles que cumprem o perfil no item 1 acima? Quando a situação sanitária permitir a livre circulação das pessoas de forma que lhes seja possível deixar o ambiente doméstico para exercer os demais papéis ocupacionais para além do papel de trabalhador e assim se beneficiar da adequação dos devidos ambientes, quando lhe for conveniente e necessário para: fazer compras, cuidar da saúde, se divertir, estudar, se socializar e exercer a sua cidadania e suas práticas religiosas.
3) Conclusão
Home office pode ser adequado e desejável para quem tem perfil e estrutura para se beneficiar de sua flexibilidade, e quando se puder circular para fora do domicílio para exercer os demais papéis ocupacionais – ou seja – no pós-pandemia. Até que isso seja possível, algum grau de risco à saúde funcional, sempre vai existir e precisa ser mitigado.
E você? Já conhece o grau de risco ao qual está submetida sua equipe em home office? Como você, líder, está cuidando das pessoas? E você trabalhador? Qual é o seu grau de consciência destes aspectos e o que tem feito a seu favor? Entre em contato e vamos conversar mais sobre isso se você necessita de estratégias funcionais para lidar com a prática do home office durante e na planejada fase pós-pandemia.
Júnia Cordeiro
Referências Bibliográficas
1 – Fischer AL, Amorim WAC, Kassem, MMR, Hartmann S, Bafti A. Satisfação e desempenho na migração ao home office: um estudo sobre a percepção de gestores, técnicos de nível superior e professores. FEA-USP/Fundação Instituto de Administração, 2021. Disponível em: https://www.fea.usp.br/fea/noticias/satisfacao-com-home-office-e-tema-de-pesquisa-da-fea. Acessada em 04/06/21.
2 – Rocha CTM, Amador FS. O teletrabalho: conceituação e questões para análise. Cad. EBAPE.BR, v. 16, nº 1, Rio de Janeiro, Jan./Mar. 2018.
3 – OMS/OPAS. Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF) . EDUSP, 2003.
4 – Kielhofner G. The environment and human occupation. In: __. Model of Human Occupation: theory and application. 4.ed. Baltimore: Lippincott Williams & Wilkins; 2008. p. 85-100.
5 – American Occupational Therapy Association. Occupational therapy practice framework: Domain and process 4rd ed. Am J Occup Ther. 2020; v. 74 (Supplement 2). S1-S87.
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